Fui chamada para ajudar em uma situação.

Numa atividade direcionada, uma criança não estava conseguindo fazer sua tarefa conforme gostaria a partir do que idealizava dentro de sua cabeça. Muito incomodada, pegou sua folha amassou toda e jogou no lixo.

Ao chegar, peguei a folha de atividade do lixo e fui entender com a criança o que houve, o que ela me disse que ao pintar, saiu da linha, ou seja, ultrapassou a margem da figura e a pintura ficou borrada. Junto com a criança, fui mostrando que o traçado dela estava ótimo e que ela só tinha 4 anos, recém feito seus 4 anos. E que sair do traçado era mais do que normal nessa idade pois ela estava aprendendo a coordenar o manuseio do lápis. Mostrei a ela que as outras crianças também pintaram fora do traçado, estavam todas fazendo o melhor, como ela também estava fazendo o melhor que sabia. Perguntei à criança se ela havia nascido sabendo a andar o que me disse prontamente que não. Então falei para ela que da mesma forma quando ela começou a andar, ela ainda não sabia correr, o que hoje sabe de forma fantástica, acontece quando estamos começando a desenhar, depois escrever e fazer outras coisas. É a prática daquilo que fazemos e, quanto mais fazemos, melhor ficamos, é que vai nos dar segurança para seguir e buscar mais. Então ela veio e me disse que a folha estava amassada, então falei para a criança: “sim está amassada porque você amassou, mas eu vou tentar com o ferro esticar o melhor que eu puder, mas voltar a ser como antes não teria como”. Daí ela me pediu uma folha nova, o que disse a ela que não tinha outra folha e que poderíamos terminar naquela mesma e prometi que tentaria desamassar com o ferro quente e que traria para ela na próxima semana. Então, junto com ela dei todo um suporte e apoio emocional para que terminasse toda a atividade elogiando cada traçado dela, o que a foi deixando muito feliz e não se preocupou mais com o traçado fora da margem. Ao final ela me abraçou e agradeceu. Estava feliz novamente e em paz consigo mesma.

O que quero levar à reflexão com essa situação

Nós não nascemos prontos. Vamos nos construindo ao longo da vida de acordo com nossas vivências, experiências e de como nos tratam e de como nos cobram. Às vezes cobramos demais uma perfeição que na verdade não existe, uma vez que nada e nem ninguém é perfeito. Mas a criança não sabe disso. Ela tenta atender às expectativas que colocamos nelas e se frustra demais quando não consegui, não porque não quer, mas porque não está madura o suficiente para dar conta daquilo que na cabecinha dela acha que tem que dar conta por que cobram dela. O cérebro tem seu tempo de maturação para desenvolver as habilidades. Não existe fórmula mágica ou varinha do pirlimpimpim que vai fazer com que sem prática fiquemos expert naquilo que queremos fazer. É a dedicação, o amor, o carinho, o respeito com o tempo de maturação e desenvolvimento de cada criança que ela vai ganhar confiança interna e se sentir segura para fazer e, se não der certo na primeira vez, tentar até conseguir. Assim os pequenos poderão continuar sonhando, buscando, seguindo…

W.B. Yeats escreveu para seu amor Maud Gonne lamentando o fato de não lhe poder dar o que pensava que ela queria dele e diz: “Tenho uma outra coisa, mas pode não ser para ti. Tivesse eu os tecidos bordados dos céus, lavrados com o ouro e a prata da luz, os tecidos azuis e turvos e de breu da noite e da luz e da meia luz. Estenderia esses tecidos aos teus pés; mas eu que sou pobre, apenas tenho sonhos. São os meus sonhos que estendi a teus pés; seja suave ao pisar que pisas os meus sonhos.”

Todos os dias, em todos os lugares, as nossas crianças estendem os sonhos aos nossos pés. Sejamos suaves ao pisar!!!